Edgar Martins (1977, Évora) apresenta uma série fotográfica realizada ao longo de 2012 e 2013 nas instalações da ESA (European Space Agency) em nove países diferentes espalhados por três continentes. Pela primeira vez, a agência espacial abriu portas a um olhar externo e investiu na relação com o grande público através da mediação artística. Mais de 80 fotografias captadas em centros de testes, departamentos robóticos, simuladores espaciais, plataformas de lançamento ou centros de treino de astronautas assumem valor e significado entre o documento e a imagem metafórica.

A Impossibilidade Poética de Conter o Infinito é uma exposição com a curadoria de Leonor Nazaré e está patente no Edifício Sede da Fundação Gulbenkian até ao próximo dia 8 de setembro de 2014.

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fotografia Tiago Lopes
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Stephen Shore - Trail's End Restaurant, Knab, Utah, August 10, 1973
Há mais de um século que os fotógrafos e os seus defensores afirmam que a fotografia merece ser considerada uma das belas-artes. E difícil saber em que medida foram bem sucedidos. É verdade que a grande maioria das pessoas não considera a fotografia como uma arte, inclusivamente quando a praticam, desfrutam dela, a utilizam e a valorizam. O argumento dos seus apologistas (onde me incluo) tem sido um pouco académico.

Agora torna-se evidente que a fotografia merece ser considerada, mesmo que não faca parte das belas-artes. Aparentemente, a fotografia (seja o que for este tipo de actividade) irá sobreviver à pintura e à escultura tal como as vemos desde o Renascimento. Parece ter sido uma sorte que poucos museus tenham tido suficiente iniciativa para abrir departamentos de fotografia, pois isso significa que poucas fotografias foram preservadas num isolamento sagrado, e que o público não considerou nenhuma fotografia como estando fora do seu alcance (os museus funcionam como as casas nobres nas quais as pessoas podem entrar a certas horas de visita. A natureza de classe da «nobreza» pode variar, mas, logo que uma obra é colocada num museu, adquire o mistério de um modo de vida que exclui a grande massa).
Vou ser mais claro. A pintura e a escultura, tais como as conhecemos, não estão a morrer de nenhuma doença estilística, de nada que fosse diagnosticado pelos horrorizados profissionalmente como decadência cultural; estão a morrer porque, no mundo tal como ele é, nenhuma obra de arte pode sobreviver sem se converter num bem valioso. E isso implica a morte da pintura e da escultura, porque, agora, a propriedade, ao contrário do que acontecia no passado, está inevitavelmente oposta a todos os outros valores. As pessoas acreditam na propriedade, mas, na essência, só acreditam na ilusão da protecção que dá a propriedade. Todas as obras pertencentes às belas-artes, seja qual for o seu conteúdo, seja qual for a sensibilidade de um espectador em particular, devem agora ser consideradas como simples sustentáculos da confiança do espírito mundial do conservadorismo.

Pela sua natureza, as fotografias têm pouco ou nada de valor de propriedade, porque não têm valor como raridade. O próprio principio da fotografia é que a imagem resultante não é única, mas, pelo contrario, infinitamente reprodutível. Deste modo, em termos do século XX, as fotografias são registos de coisas vistas. Podemos pensar que não estão mais próximas das obras de arte do que os electrocardiogramas. Estaremos assim mais livres de ilusões. O nosso erro foi classificar coisas como arte,tendo em consideração certas fases do processo criativo. Mas, logicamente, isto pode fazer que qualquer objecto criado pelo homem seja arte. E mais útil classificar a arte por aquilo em que se tomou a sua função social. Ela funciona como propriedade. Portanto, na sua maior parte, as fotografias ficam fora desta categoria. As fotografias são o testemunho de uma escolha humana que foi exercida numa dada situação. Uma fotografia é o resultado da decisão do fotógrafo de que vale a pena registar um acontecimento particular ou um determinado objecto que foi visto. Se tudo o que existe fosse continuamente fotografado, toda a fotografia perderia o seu significado. Uma fotografia não celebra o acontecimento em si mesmo nem a faculdade da visão em si mesma. Uma fotografia já é uma mensagem acerca do acontecimento que regista. A premência desta mensagem não esta inteiramente dependente da premência do acontecimento, mas também não pode ser completamente independente dela. A mensagem, nos termos mais simples, decifrada, significa: decidi que ver isto é algo que merece ser registado.
Isto é tão verdadeiro para as fotografias memoráveis quanto para os instantâneos mais banais. O que diferencia umas das outras é o grau em que uma fotografia explica a mensagem, o grau em que uma fotografia faz que a decisão do fotógrafo seja transparente e compreensível. Assim, chegamos a um paradoxo mal compreendido que cada fotografia encerra. Esta constitui um registo automático, através da medição da luz, de um dado acontecimento, e, no entanto, utiliza esse acontecimento dado para explicar o seu registo. A fotografia é o processo de tornar a observação consciente de si mesma.

Temos de nos desembaraçar da confusão que suscita a comparação continua da fotografia com as belas-artes. Todos os livros de fotografia falam da composição. Uma boa fotografia é aquela que tem uma boa composição. Contudo, isso só é verdade na medida em que considerarmos as imagens fotográficas como uma imitação das imagens pintadas. A pintura é a arte da disposição, pelo que é justo exigir que haja algum tipo de ordem no que está a ser disposto. Todas as relações entre formas numa pintura podem adaptar-se até certo ponto ao objectivo do pintor. Não é isso que acontece com a fotografia, a menos que incluamos essas obras absurdas de estúdio em que o fotógrafo prepara todos os pormenores do tema antes de disparar a máquina. A composição, no sentido profundo, formativo, da palavra, não pode entrar na fotografia. A disposição formai de uma fotografia não explica nada. Os acontecimentos retratados são, em si mesmos, misteriosos ou explicáveis, consoante o conhecimento que o espectador tenha deles antes de ver a fotografia. O que confere então significado à fotografia enquanto fotografia? O que torna a sua mensagem mínima - decidi que ver isto é algo que merece ser registado - tão grande e vibrante?

O verdadeiro conteúdo de uma fotografia é invisível, porque deriva de um jogo, não com a forma, mas com o tempo. Poder-se-ia argumentar que a fotografia está tão próxima da música quanto da pintura. Disse atrás que uma fotografia é testemunho de uma escolha humana. Esta escolha não é entre fotografar x e y, mas entre fotografar num momento x ou num momento y. Os objectos registados em qualquer fotografia (desde os mais notáveis até aos mais vulgares) têm aproximadamente o mesmo peso, a mesma convicção. O que varia é a intensidade com a qual tomamos consciência dos pólos de ausência e presença. Entre estes dois pólos, a fotografia encontra o seu significado adequado (o uso mais comum da fotografia é como recordação do ausente). Uma fotografia, ao registar o que foi visto, refere-se sempre, e pela sua própria natureza, ao que não é visto. Isola, preserva e apresenta um momento extraído de um continuo. O poder de uma pintura depende das suas referências internas. As referências ao mundo natural para além dos limites da superfície pintada nunca são directas: processam-se por equivalências. Ou, dizendo de outra maneira, a pintura interpreta o mundo, traduzindo-o na sua própria linguagem. Mas ela não tem uma linguagem própria. Aprende-se a ler fotografias da mesma maneira que se aprende a ler pegadas ou electrocardiogramas. A linguagem em que a fotografia se exprime é a linguagem dos acontecimentos. Todas as suas referências são externas a ela própria. Daí o continuo.

Um realizador de cinema pode manipular o tempo como um pintor pode manipular a confluência dos acontecimentos que pinta. O fotógrafo, não. A única decisão que pode tomar refere-se ao momento que escolhe isolar. Contudo, esta aparente limitação confere à fotografia o seu poder único. O que mostra evoca o que não se mostra. Pode olhar-se para qualquer fotografia para verificar que isto é verdade. A relação imediata entre o que está presente e o que está ausente é especifica de cada uma delas: pode ser a relação entre o gelo e o sol, entre a dor e a tragédia, entre um sorriso e um prazer, entre um corpo e o amor, entre um cavalo de corrida vencedor e a corrida em que participou.

Uma fotografia é eficaz quando o momento escolhido que regista contém uma partícula de verdade que é aplicável de maneira geral, que revela tanto o que está ausente na fotografia quanto o que está presente nela. A natureza desta partícula de verdade, e os modos como pode ser discernida, varia enormemente. Pode encontrar-se numa expressão, numa acção, numa justaposição, numa ambiguidade visual, numa configuração. Esta verdade também nunca pode ser independente do espectador. Para o homem que tem no bolso uma fotografia da namorada do tipo Polyfoto, a partícula de verdade numa fotografia «impessoal» ainda tem de depender das categorias gerais que já estão na mente do espectador. Tudo isto pode parecer próximo do velho principio da arte que transforma o particular em universal. Mas a fotografia não se ocupa de construções. Não há  transformação na fotografia. Apenas há decisão, apenas focagem. A mensagem minimalista de uma fotografia pode ser menos simples do que o que pensamos na primeira abordagem. Em vez de ser: decidi que ver isto é algo que merece ser registado, poderíamos descodificá-la como o grau em que creio que isto merece ser olhado pode ser avaliado por tudo o que deliberadamente não mostro, porque está contido no seu interior.

Porquê complicar desta maneira uma experiência que temos várias vezes por dia - a experiência de observar uma fotografia? Porque a simplicidade com que muitas vezes tratamos esta experiência é inútil e confusa. Pensamos nas fotografias como obras de arte, como evidencias de uma verdade particular, como similitude, como novos objectos. De facto, cada fotografia é um meio de verificar, confirmar e construir uma visão total da realidade. Dai o papel crucial da fotografia no combate ideológico. Dai a necessidade de que compreendamos uma arma que podemos usar e que pode ser usada contra nós.

John Berger, Understanding a Photograph, em The Look of Things, Viking Press, Nova Iorque, 1974
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BES Photo 2014

Letícia Ramos é a vencedora da 10.ª edição do prémio BESphoto, uma iniciativa do Banco Espírito Santo (BES) em parceria com o Museu Coleção Berardo, à qual se juntou o Instituto Tomie Ohtake, que apresentará a exposição em São Paulo, a partir de 23 de outubro.

O júri de premiação, com nacionalidade distinta das representadas pelos artistas selecionados, foi constituído por Elvira Dyangani Ose, curadora de arte internacional (patrocinada pelo Guaranty Trust Bank Plc) da Tate Modern de Londres; Luis Weinstein, fotógrafo e organizador do Festival Internacional de Fotografia de Valparaíso; e María Inés Rodríguez, diretora do CAPC, Musée d’Art Contemporain de Bordeaux. «Decidido por unanimidade, a atribuição do prémio BESphoto 2014 vai para Letícia Ramos, pela série Nós sempre teremos marte, projeto revelador de uma trajetória consistente, centrado na investigação, e cujo processo de trabalho reflete uma coerência da linguagem fotográfica. É de destacar a perceção pelo incerto deste processo, que permite evocar outros imaginários possíveis. A sua obra transmite um compromisso constante do meio com as diversas possibilidades ficcionais e poéticas.»

Apesar da difícil decisão, o Júri realça «a extrema qualidade do trabalho desenvolvido por cada um dos outros participantes, Délio Jasse e José Pedro Cortes, e destaca a diversidade das propostas apresentadas.» Presentemente no Museu Coleção Berardo, a exposição que reúne trabalhos inéditos de Délio Jasse (Angola), José Pedro Cortes (Portugal) e Letícia Ramos (Brasil) fica patente ao público até 7 de setembro de 2014.

texto via besphoto


José Pedro Cortes

José Pedro Cortes

José Pedro Cortes

José Pedro Cortes

José Pedro Cortes

Délio Jasse

Délio Jasse

Délio Jasse

Délio Jasse

Letícia Ramos

Letícia Ramos

Letícia Ramos

Letícia Ramos

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