De 6 de Junho a 31 de Agosto de 2014, está patente em Lisboa a Exposição de Fotografia de Artur Pastor. Os trabalhos encontram-se divididos em três espaços distintos, Portugal de Artur Pastor no Museu da Cidade - Pavilhão Preto, Fotógrafo Artur Pastor no Arquivo (Fotográfico) Municipal de Lisboa e na Colorfoto de Alvalade Falésias de Artur Pastor.

O Nova Photographia esteve no Arquivo Fotográfico de Lisboa e documentou parte da exposição. Esta resulta da aquisição do Fundo Artur Pastor (1922-1999) à família do fotógrafo pelo Arquivo Municipal de Lisboa em 2001 com o objectivo de o preservar e disponibilizar ao público. O seu espólio reúne cerca de 15 mil negativos em película a preto e branco produzidos até aos inícios dos anos 40. Cerca de 30 mil negativos a cor e 10 mil diapositivos a cor posteriores a 1970. Para além do arquivo de negativos existem também cerca de 500 provas de autor da sua primeira exposição, Motivos do Sul de 1946, 450 provas da sua exposição Fotografias de Artur Pastor realizada em 1970. Para além das provas de autor, o espólio reúne diversas provas de trabalho, maquetes de livros, documentos de imprensa, recortes de jornal, catálogos e folhetos das suas exposições.





"Encenadas, espontâneas, a pedido, negociadas ou roubadas ao momento, as fotografias de Artur Pastor transformam-nos a experiência e o conhecimento. Junto com a emoção estética que as suas nuances de preto-e-branco irremediavelmente geram- e dessa emoção e estética falarão os críticos de fotografia, detectando estilos, escolas e originalidade - vivemos a experiência de nos atirarem pra um país que foi representado e se representou, e que, convivendo com as representações existiu aquém e além destas, resistiu e resistiu-lhes" (...)




"Na leitura das imagens, na vastidão do seu alcance, na sua repetição e extensão, detecta-se um fotógrafo intensamente comprometido com o registo visual de um país e a criação de uma memória de amplo espectro e vasta sustentação material. Os seus dados biográficos assim o confirmam: temos alguém dedicado em pleno a captar, registar, revelar, imprimir divulgar e guardar para mais tarde as imagens de um quotidiano que ora se inscreve em grandes murais e panorâmicas, em paisagens que se transformam e que urge documentar, ora se lê nos olhares e aproximações entre homens, mulheres, árvores, animais, sementes, alfaias, casas, portas, redes, barcos, peixes, mas também na materialidade dos lugares de ciência e experimentação, nas estações agrícolas, nos seus laboratórios e postos avançados." (...)




"Em dezenas de milhares de imagens multiplicam-se gestos, corpos alinhamentos, posturas, todos humanos, todos de uma vida a que o fotógrafo rende homenagem. Aqui e ali adivinham-se os sentimentos, o esforço, no pegar das varas, no segurar das cordas, no acartar dos cestos, encosta acima, escadas abaixo, nas cargas de fruta, de palha, de madeiras, de sal. São as actividades de apoio à pesca, antes e depois dela e os objectos, equipamentos, barcos, bóias, redes, bois de tracção, palheiros de praia, abrigos, cestas e centos de peixe, canastras, lotas, compradores, varinas, crianças E são as outras actividades da beira mar - a apanha do sargaço que contamina de humidade as imagens, ou as salinas, onde o sol e a luz são tão intensos que ferem a vista de quem vê e quem é visto"

Excertos de Cristina Bastos - O País de Artur Pastor.





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Nos últimos vinte anos, aproximadamente, tenho mantido cadernos de apontamentos, diários visuais das minhas viagens. E tenho viajado imenso atravessando três continentes. Mas no final, qualquer local acaba por se assemelhar com outro, permitindo-me agora descobri o que pretendo explorar a quintessência, a alma de Portugal. Os portugueses sempre me pareceram agarradas a um passado místico, aguardando pelo regresso do rei D.Sebastião, presos entre lendas e os aforismos de Fernando Pessoa. Eu comecei a serie Limbo por volta de 1980 e continuei a trabalhar nela até nascer o meu primeiro filho em 1985.  Tens de saber deixar os trabalhos repousar por um período de tempo para atingirem, tal como o vinho, a sua maturidade.
Mas a busca pela memória começou mais cedo. Foi quando iniciei o livro Ovar: Para Sempre, um trabalho documental sobre a casa dos meus avôs na cidade nortenha de Ovar, o local onde ambos viveram e faleceram. Para mim eles resumem esta mentalidade 'amarrada', de uma comunidade portuguesa que vira as suas costas a Espanha e encara o oceano. Esta situação deixa-me num relação de amor/ódio com a minha terra natal, eu escolhi viver longe dela. A casa dos meus avôs estava recheada de coisas que me assustavam em pequeno quando passava lá as férias.Vem à memória a imagem da grande cama onde dorminhão com a minha avó, uma cama para morrer não para amar. A olhar para nós durante toda a noite estava um grande retábulo de prata com o menino Jesus, vestido como um guerreiro rodeado de angus que brilhavam no escuro. Os meus avós eram muito devotos, figuras sagradas e rosários estavam expostos nas paredes de casa. No livro que eu fiz, quis mostrar como aquele local se apresentava antiquado, assombrando e português.
Agora ambos os mundos encontram-se mais entrosados. Esta mistura foi concretizada para mim quando eu estive a trabalhar no projecto Terras do Norte (comissionado para o festival de fotografia de Coimbra) no momento em que me encontrei com um pastor que estava a recolher o seu gado no meio do nada. Ele trazia consigo um telefone sem fios. Quando lhe perguntei para que servia, este respondeu : "Para a minha mulher me avisar que a sopa está pronta". Talvez agora que Portugal está na Comunidade Europeia, este possa aprender a comunicar de uma forma mais lata e considerar-se menos isolado sentindo-se parte integrante de um continente.
Eu não acho que alguma vez me aproxime das pessoas: estas parecem conduzir a demasiado desapontamento. Eu não     
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A Rough'Nough é um novo espaço em Lisboa dedicado aos livros, impressões e edição de autor. Nela é possível encontrar vários trabalhos que se encontram relacionados com a ilustração, gravura e fotografia.  Para além da oferta de diversos artigos na loja (como os livros, zines, ilustrações) a Rough'Nough é também um espaço dedicado à criação artística. O estúdio dispõem de ferramentas de impressão com o objectivo a desenvolver e editar trabalhos de artistas que pretendam estabelecer parceria com a Rough' Nough.

Localização:
Beco do Mexias, nº1 1100-349, Lisboa, Portugal
contacto: roughnougheditions@gmail.com







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Valter Vinagre - Coruja das Torres Tyto Alba
 da série Animais de Estimação 2010

Em 2007 mudei-me para Newport, no País de Gales, para estudar fotografia.
Fui morar numa casa onde havia uma cadela. Chamava-se Izzy, uma Labrador. Era carinhosa e gostava de brincar. Uns meses depois fui viver para outra casa onde existiam dois cães, dois Jack Russell. Um deles, o George, era estranho e pouco dado. Um dia mordeu-me! Mas porquê? Eu não sabia nada sobre cães. Nunca tinha vivido com cães até me mudar para o País de Gales. Em Portugal, no local onde cresci, a maioria dos cães vive na rua em estado semi-selvagem. Os outros vivem nos quintais, guardam as casas. Só um ou outro é que vive dentro de casa. No País de Gales a situação é completamente diferente. De acordo com as estatísticas, um terço da população tem cães dentro de casa – uau!
Um dia encontrei um poema que me ajudou a entender melhor a nossa relação com os cães:

“French-kissing my dog melts my troubles away 
As if dog spelled backwards has something to say
 What works for me will work for you
 Get rid of the zanax and prozac too.
 Why pay the therapist all that dough?
 When it’s the magical doggies we really owe.”
 (Excerto retirado de ‘I French Kiss my Dog’ escrito por Gail Glassman em 2004)

Depois de ler o poema deixei de ver os cães apenas como animais de trabalho, que guardam as casas ou que vivem na rua. Descobri que podia ser muito mais que isso: um companheiro ocasional, o melhor amigo, um amante. Claramente, o George não era meu amigo! No curso de fotografia passei a interessar-me por temas relacionados com animais e descobri o trabalho de vários fotógrafos de animais: Keith Arnatt e o projecto ‘Walking the Dog’, sobre pessoas a passear os cães; ‘Grounded’ de Helen Sear, onde os corpos de animais se assemelham a paisagens fantásticas; ‘Familiar British Wildlife’ de Clive Landen, que mostra de forma trágica e bela os animais mortos nas estradas da Grã-Bretanha; ‘The Refusal’ de Jo Longhurst, um projecto que olha para a busca incessante da perfeição e a nossa ligação com os animais. Nos últimos anos tem aumentado o interesse pelo mundo animal na fotografia. Alguns projectos adquiriram reconhecimento internacional, como o ‘The Hyena and Other Men’ de Pieter Hugo em 2005 e, mais recentemente, o ‘Paloma al aire ‘de Ricardo Cases em 2011. O Fauna & Flora – www.faunaandflora.org – concilia todas estas experiências, desde o mal-humorado Jack Russel ao projecto do Ricardo Cases. O Fauna & Flora é uma plataforma online para discussão sobre o mundo das coisas vivas e da fotografia, onde apresento projectos fotográficos de vários géneros sobre animais e plantas. O objectivo principal é ampliar a discussão sobre animais e plantas na fotografia, com a intenção de melhorar a nossa compreensão do mundo animal e vegetal. E, em último caso, ajudar a uma mudança positiva nas nossas vidas e nas vidas de outras criaturas. Ao desenvolver este projecto sinto-me um animal melhor.

texto de João Bento publicado em animalia vegetalia mineralia
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