Ainda se diz por aqui que a casa está assombrada. Na Casa do Casal viviam sete senhoras, todas irmãs solteiras. Uma era bruxa. Em noites de lua cheia, as senhoras, voariam nas suas vestas brancas da varanda para os ramos frondosos do castanheiro, sobranceiros à rua. Daí seduziriam os homem que passagem.
Na Casa das Sete Senhoras, conversar, saber como era antes de mim, ouvir e imaginar, foi tão importante quanto o ato de fotografar.
Comecei por fazer alguns retratos de pessoas. Interessaram-me porque sempre viveram aqui e estão ligadas à terra como as árvores. Falam do tempo, das suas recordações, das perdas... muitas já vestem de preto.
Esta série dá conta de um persistente regresso ao mesmo lugar, para perscrutar as suas diferenças (a lenta desactivação do maneio agrícola, a transformação progressiva do território, o envelhecimento...) , porém escutar o mesmo mocho, a mesma raposa, as mesmas estórias. Tal como na lenda, talvez tenha sido a feição mágica e medonha, desta experiência cíclica, o meu maior ferimento: a noite, os fumos, os cadáveres, a lua, a ruína, os sons.
Um lugar de afetos, afinal, também nasci aqui.

Tito Mouraz - website

texto do catalogo dos Encontros da Imagem 2014





















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Bruno Ferreira
HOMBRE
Lançamento do livro pela Publicações Nabo
Exposição pop-up na Pequena Galeria
30 outubro 2014 18h às 22h

 Bruno Ferreira estudou Cinema em Lisboa e Nova Iorque, mas é na publicidade que se tem movido desde 2007. O lado autoral do seu trabalho tem vindo a manifestar-se nos vídeos que realizou para os PAUS, para os Linda Martini ou para os Youthless. HOMBRE é a sua estreia nos livros e nas exposições, materializando finalmente uma vontade persistente em retratar. Ao registo físico que se concretiza nesta edição pela Nabo Publicações, junta-se a apresentação de parte deste seu diário visual numa exposição pop-up na Pequena Galeria, no dia 30 outubro. Escuto-os, gosto mesmo de escutá-los .

Escuto-os a trabalhar, a comer, nos mais diversos sítios a serem o que são. Não existiu um objecto de reflexão para o HOMBRE. O que existiu e existe (pelo menos para já) é esta vontade quase viciante de entender a individualidade, por isso a reflexão tem sido sempre substituída pela minha irreflexão de não conseguir parar de escutar. Mesmo os que me são mais próximos por vezes me parecem estranhos e os estranhos vão ficando mais próximos. Por todos eles tenho sede de curiosidade. Quando isso acabar talvez descanse. Por vezes existe mais humanidade quando o Homem sai do quadro, mas lá está ele presente com tudo o que já produziu até hoje. O Homem tal como eu tem ego e mesmo quando não está presente, quer ser falado e lembrado. Gosto de fotografar isso porque volta para mim, relembrando-me o meu lado bom e mau.



À venda a partir de 30 de outubro
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Miracles & Co é uma exposição inserida na programação do Encontros da Imagem 2014.
Em exibição no Museu da Imagem, Braga.

Salpicada de lagos profundos e bosques frondosos, a Carélia é a zona mais meridional da Finlândia e esta situação tem sido a causa de frequentes litígios fronteiriços ao longo de toda a história, primeiro com o império czarista e depois com a URSS. A Carélia não só esconde o enigma de ser o berço do Kalevala, a extraordinária epopeia do herói Wainamoinen, mas também é terra de superstições e lendas, bem como de antigos cultos pagãos que a Igreja Ortodoxa não teve dificuldade em integrar. Esta presença religiosa manifesta-se na forma de mosteiros solitários e aprazíveis, alguns dos quais abandonados e em estado de quase ruína desde as incursões bolcheviques primeiro e da invasão estalinista, depois. É o caso de Valhamönde, um mosteiro que foi erigido segundo a tradição por dois missionários de origem grega, o monge Sérgio e o seu jovem prosélito Herman, no alvorecer do segundo milénio. De facto, apenas se conservam indícios documentais a partir do século XVII, embora quando muito mais tarde já, a diocese Careliana foi criada em Vyborg, muita informação valiosa se tenha perdido quando os revolucionários incendiaram o arquivo diocesano. Pouco depois da independência da Finlândia em 1917, Valhamönde alcança a autonomia canónica, mas é atribuída à invocação do Patriarca Ecuménico de Antioquia. Desde então, a evolução torna-se imprecisa; a comunidade de monges diminui gradualmente e o mosteiro parece isolar-se do resto do mundo. Para esse isolamento contribuem as enormes dificuldades de acesso: o denso nevoeiro e o intrincado labirinto das 13710 ilhas do lago Saimaa, bem como cartas de navegação defeituosas, protegeram Valhamön da curiosidade externa. Além disso, os monges enfatizaram a natureza emaranhada do seu esconderijo, construindo ilhotas artificiais e abrindo canais estreitos, num evidente afã de vincular a sua sede ao significado esotérico do labirinto (provavelmente teriam adotado o modelo do labirinto próximo, Gotland). Afastado e discreto, portanto, Valhamönde só mereceu a atenção dos jornalistas quando um ex-membro da comunidade monástica, Munkki Nikolaus, revelou a verdadeira natureza das suas atividades: esse centro espiritual secreto, esconde afinal uma escola onde se ensina a fazer milagres. Segundo parece, chegam a Valhamönde monges de todas as religiões e membros das seitas mais absurdas, com cândido propósito de aprender a dominar o sobrenatural. Trata-se naturalmente de uma vigarice descarada, mas cujos nebulosos interesses vão além dos meramente económicos próprios de todas as fraudes, para se infiltrarem nas redes de domínio religioso e político, e nesse sentido não seria improvável associar Valhamönde a organizações secretas e serviços secretos. Experiente em questões de ficção, eu quis usar nesta altura os recursos estritos do jornalismo de investigação e da fotografia documental para fazer face a este caso flagrante de impostura. Para fazer esta reportagem, fingi ser aprendiz de sacerdote, capaz de pagar a elevada inscrição e seguir cursos de Valhamönde juntamente com os outros noviços, o que me permitiria praticar o ciclo de milagres de terra, de água, de ar e de fogo, enquanto compilava fotografias e outras provas que pudessem desmascarar uma invenção tão incrível. Este é o único propósito destas imagens.


















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“It is said that there are insects whose vision is so limited that a flap of their wings lifts them above their horizon. Each movement is a plunge into uncertainty. They are like the blind who cannot know where their steps are leading them. If the flap of a wing were to fling us above our horizon, we would get a new, amazing sense of the eternal adventure.” Béla Balázs

On Foot - First published in Béla Balázs, Der Phantasie-Reiseführer: Das ist ein Baedeker der Seele für Sommerfrischler (Berlin: Paul Zsolnay Verlag, 1925) | OCTOBER 115, Winter 2006, pp. 59–60. © 2006 October Magazine, Ltd. and Massachusetts Institute of Technology. 

Viagem Sem Rumo é um trabalho que parte de uma necessidade de pesquisa interior, abordando a representação da experiência humana numa reflexão sobre a contemporaneidade. Um exercício íntimo de consciencialização, onde o instinto reflecte sobre a razão e vice-versa, em momentos que cruzam realidades interiores e exteriores. A solidão e alienação perante a multidão. O vazio a urgir a procura de uma espiritualidade perdida. A vulnerabilidade das relações no desespero pela busca de afecto. O perpétuo movimento como reflexo da ânsia constante. A dormência dos sentidos na repetição dos dias. A ausência de valores diante da multiplicidade baralhada das referências. O processo de aculturação onde a homogeneidade se sobrepõe ao individual. Um retrato da presente sociedade e da sua bipolaridade dominante. Em última instância, uma análise sobre o acto emocional e compulsivo de coleccionar e preservar memórias, e assim reviver e recriar as mesmas. Onde o fim é a viagem em si. Tal como a vida.

João Pedro Marnoto
Site de Viagem Sem Rumo






400 cópias, capa dura
19x24 cm, 58 páginas
Maio 2014
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O trabalho 'VENDE-SE' de Augusto Brázio, está em exibição no Museu do Neo-Realismo em Vila Franca de Xira até ao dia 16 de Novembro de 2014. Esta exposição faz parte da mostra curatorial desenvolvida para a Bienal de Fotografia de Vila Franca. Esta é a primeira exibição do projecto de Augusto Brázio, que contou com a sua edição em formato livro (apresentação do livro).












fotografia - Tiago Lopes

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