Nos últimos vinte anos, aproximadamente, tenho mantido cadernos de apontamentos, diários visuais das minhas viagens. E tenho viajado imenso atravessando três continentes. Mas no final, qualquer local acaba por se assemelhar com outro, permitindo-me agora descobri o que pretendo explorar a quintessência, a alma de Portugal. Os portugueses sempre me pareceram agarradas a um passado místico, aguardando pelo regresso do rei D.Sebastião, presos entre lendas e os aforismos de Fernando Pessoa. Eu comecei a serie Limbo por volta de 1980 e continuei a trabalhar nela até nascer o meu primeiro filho em 1985.  Tens de saber deixar os trabalhos repousar por um período de tempo para atingirem, tal como o vinho, a sua maturidade.
Mas a busca pela memória começou mais cedo. Foi quando iniciei o livro Ovar: Para Sempre, um trabalho documental sobre a casa dos meus avôs na cidade nortenha de Ovar, o local onde ambos viveram e faleceram. Para mim eles resumem esta mentalidade 'amarrada', de uma comunidade portuguesa que vira as suas costas a Espanha e encara o oceano. Esta situação deixa-me num relação de amor/ódio com a minha terra natal, eu escolhi viver longe dela. A casa dos meus avôs estava recheada de coisas que me assustavam em pequeno quando passava lá as férias.Vem à memória a imagem da grande cama onde dorminhão com a minha avó, uma cama para morrer não para amar. A olhar para nós durante toda a noite estava um grande retábulo de prata com o menino Jesus, vestido como um guerreiro rodeado de angus que brilhavam no escuro. Os meus avós eram muito devotos, figuras sagradas e rosários estavam expostos nas paredes de casa. No livro que eu fiz, quis mostrar como aquele local se apresentava antiquado, assombrando e português.
Agora ambos os mundos encontram-se mais entrosados. Esta mistura foi concretizada para mim quando eu estive a trabalhar no projecto Terras do Norte (comissionado para o festival de fotografia de Coimbra) no momento em que me encontrei com um pastor que estava a recolher o seu gado no meio do nada. Ele trazia consigo um telefone sem fios. Quando lhe perguntei para que servia, este respondeu : "Para a minha mulher me avisar que a sopa está pronta". Talvez agora que Portugal está na Comunidade Europeia, este possa aprender a comunicar de uma forma mais lata e considerar-se menos isolado sentindo-se parte integrante de um continente.
Eu não acho que alguma vez me aproxime das pessoas: estas parecem conduzir a demasiado desapontamento. Eu não